O meu indicador de entusiasmo e de motivação nunca estivera tão alto como quando pisei os degraus da carruagem que me levaria ao planalto mais extenso e mais alto do planeta. Estava cada vez mais perto de concretizar algo que apenas materializara em sonhos e que agora apenas 44 horas me separavam de pisar aquele que, ainda no século passado, fora considerado um dos locais mais remotos. O grandioso Tibete, com a sua cultura exótica e distante e com um povo com um coração e uma alma inundada de devoção e de bondade.
Enquanto aguardava ansiosamente pela conquista dos primeiros metros de caminho, pus-me a reviver algumas das aventuras vividas por viajantes do século passado. Viajantes que, por sorte ou azar do destino, ou por simples escolha, enfrentaram o desconhecido e rumaram ao distante Tibete: Alexandra David-Neel tornou-se famosa por ter sido a primeira mulher ocidental a entrar na Cidade Proibida (Lhasa), feito realizado no ano de 1923, publicando mais tarde um livro chamado “My Journey to Lhasa”; a incrível viagem de Heinrich Herrer, juntamente com Peter Aufschnaiter, que chegaram a Lhasa pelo seu próprio pé, depois de terem caminhado e sobrevivido durante quase 2 anos às áridas e desérticas paisagens do Tibete (viagem que foi descrita no livro “Sete Anos no Tibete”, escrito anos mais tarde pelo Heinrich). O grande escritor aventureiro Robert Byron que também viajou e escreveu sobre o Tibet em 1933.
Apesar do crescente entusiasmo por ver este doce lugar cada vez mais perto, o pensar naquelas grandes experiências faziam me sentir nostálgico...a nostalgia de algo que nunca vivera mas com a qual desde sempre me identificara. O mundo de hoje avança a grande velocidade para um futuro mais homogéneo, onde as diferenças entre as culturas de outrora se dissipam sobre um mar cada vez mais monocromático...onde tudo, ou quase tudo, é cada vez mais fácil de adquirir...e tudo isto me faz pensar que o acto de viajar agora não passa de uma mera ilusão, de uma simples evocação do significado que tal empresa teve em tempos não muito distantes do nosso. Não conseguia parar de imaginar o quão intensas, cheias, poderosas e ricas devem ter sido, naqueles tempos, as experiências de tocar e de viver culturas e civilizações tão distantes...já para não falar do próprio acto de nos deslocar-mos.
Foram precisas quase 20h de viagem para conseguir ver o princípio do extenso planalto tibetano. No entanto, não pude desfrutar mais do que uma hora de luz, ate o sol se pôr. Durante essa noite fui transportado até a uma altitude de 5200m! Foi por mero acaso que notei. A meio da noite acordei e vi vários passageiros a recorrer a máscaras de oxigénio...foi quando consultei o meu altímetro :)
Aqui ficam algumas imagens.
P.S. - Todas as imagens foram tiradas com uma janela à frente da objectiva que variava entre suja e muito suja! O que foi uma grande pena pois passei por paisagens extraordinárias...
Numa das muitas subidas!
1 comentário:
A maneira como descreves as tuas viagens não podia ser melhor, além de ser muito visual é ao mesmo tempo didáctica. Finalmente Lhasa..! O remoto e exótico Tibete com as suas tradições ancestrais e uma grande cultura! Vais subir ao Potala? - Claro! Isto nem se pergunta!
Saudades
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